sexta-feira, 16 de julho de 2010

Uma outra visão sobre Barack Obama

Segue trecho de uma entrevista cedida por Eduardo Galeano à revista CRONICON.NET.
Apreciem.
Abraços
Prof. Geferson


C.N - O Senhor reivindica a figura do Presidente Barack Obama por sua condição racial, mas o fato de manter ou ampliar a presença norte- americana mediante bases militares na América latina, como está
ocorrendo agora em Colômbia com a instalação de sete (7) plataformas de controle e espionagem, não desdiz as verdadeiras intenções do partido democrata, que simplesmente segue ao pé da letra os planos
expansionistas e de ameaça de uma potencia hegemônica como os Estados Unidos?

E.G - O que passa é que Obama até agora, não definiu muito bem o que é que quer fazer em relação à América Latina, as nossas relações, tradicionalmente duvidosas, nem em outros temas tampouco. Em alguns
espaços há uma vontade de mudança expressa, por exemplo, na que tem a ver como sistema de saúde que é escandaloso nos Estados Unidos, se fraturas uma perna pagarás até o fim dos teus dias a dívida por este
acidente. Mas em outros espaços não, ele continua falando “de nossa liderança”, nosso estilo de vida, numa linguagem demasiadamente parecida com as anteriores. A mim me parece muito positivo que um país tão racista como este e com episódios de um racismo colossal, descomunal, escandaloso, ocorridos há cerca de quinze (15) minutos em termos históricos, tenha um presidente seminegro. Em 1942, ou seja meio século, nada, o Pentágono proibiu as transfusões de sangue negro e aí o diretor da Cruz Vermelha renunciou ou foi renunciado porque se negou a cumprir a ordem dizendo que era uma disparate falar de sangue negro, ele era negro, foi um grande cientista, que tornou possível a aplicação do plasma em escala universal, Charles Drew. Então um país que fizera um disparate como proibir o sangue negro tenha Obama de Presidente, é um grande avanço, mas por outro lado, até agora eu não vejo uma mudança substancial e aí está por exemplo o modo como seu governo enfrentou a crise financeira, pobrezinho eu não queria estar em seus sapatos, mas a verdade é que terminaram recompensados os especuladores, os piratas de Wallstreet que são muitíssimos mais perigosos que os da Somália porque esses assaltam nada mais que os barquinhos na costa, ao contrário que os da Bolsa de Nova York que assaltam o mundo, eles foram finalmente recompensados, eu queria iniciar uma campanha a principio comovido com o lema: “Adote um Banqueiro”, mas a abandonei porque vi que o Estado se encarregou desta tarefa (sorrisos) e o mesmo com a América Latina, com quem não tem muito claro o que fazer. Estiveram os Estados Unidos mais de uma século dedicados à fabricação de ditaduras militares na América Latina, então está na hora de defender uma democracia como no caso de
Honduras, ante um claríssimo golpe de estado vacilam, têm respostas ambíguas, não sabem o que fazer, porque não tem prática, lhes falta experiência, levam mais de um século trabalhando no sentido contrário,
então compreendo que a tarefa não é fácil: no caso das bases militares na Colômbia não só ofende a dignidade coletiva da América Latina senão também a inteligência de qualquer um, porque se diz que sua função vai ser combater as drogas, por favor, até quando!
Quase toda a heroína que se consome no mundo provém do Afeganistão, quase toda, segundo dados oficiais da Organização das Nações Unidas (ONU) que qualquer um pode ver na internet, e o Afeganistão é um pais ocupado pelos Estados Unidos e como se sabe os países ocupantes tem a responsabilidade do que ocorre nos países ocupados, por tanto, tem algo à ver com este narco tráfico em escala universal e são dignos herdeiros da Rainha Victória que era narcotraficante.

NÃO SE PODE SER TÃO HIPÓCRITA

C.N - A Rainha Britânica que introduziu por todos os meios no século XIX o opio na China através dos comerciantes da Inglaterra e Estados Unidos...

E.G – ... sim, a celebérrima Rainha Victoria da Inglaterra impôs o ópio a China ao longo de duas guerras de 30 anos, matando uma quantidade imensa de chineses, por que o império chinês negava a aceitar esta substancia dentro de suas fronteiras que estava proibida, e o ópio é o papai da heroína e da morfina, justamente. Então aos chineses lhes custou tudo porque a China era uma grande potencia que podia haver competido com a Inglaterra nos começos da revolução industrial, era a escola do mundo, e a guerra do ópio os arrasou, os converteu num despojo, daí entraram os japoneses como perigo para sua casa em quinze minutos. Victoria era uma Rainha narcotraficante e os Estados Unidos que usam tanta droga como pretexto para justificar suas invasões militares, porque disso se trata, são dignos herdeiros desta feia tradição. A mim me parece que é hora que nos despertemos um pouquinho, que não se pode ser tão hipócrita. Se vão ser hipócritas que o sejam com mais cuidado: Na América Latina temos bons professores de hipocrisia, se querem podemos, num convênio de ajuda tecnológica mútua, emprestar-lhes alguns hipócritas próprios.


O restante da entrevista está em: https://master.uerj.br/pipermail/uerjxxi/2009-November/016297.html

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