quinta-feira, 1 de julho de 2010

Um pouco da poesia de Renato Russo

Uma das minhas letras preferidas. Viva Renato Russo (Urbana Legio Omnia Vincit):


 "Acrilic On Canvas"



-- É saudade então.

E mais uma vez

De você fiz o desenho pais perfeito que se fez:

Os traços copiei do que não aconteceu.

As cores que escolhi, entre as tintas que inventei

Misturei com a promessa que nós dois nunca fizemos

De um dia sermos três.

Trabalhei você em luz e sombra.

Era sempre:

-- Não foi por mal. Eu juro que nunca

Quis deixar você tão triste.

Sempre as mesmas desculpas

E desculpas nem sempre são sinceras --

Quase nunca são.

Preparei a minha tela com pedaços de lençóis

Que não chegamos a sujar.

A armação fiz com madeira

Da janela do seu quarto.

Do portão da sua casa

Fiz paleta e cavalete

E com as lágrimas que não brincaram com você

Destilei óleo de linhaça

E da sua cama arranquei pedaços

Que talhei em estiletes

De tamanhos diferentes

E fiz então

Pincéis com seus cabelos.

Fiz carvão do batom que roubei de você

E com ele marquei dois pontos de fuga

E rabisquei meu horizonte.

Era sempre:

-- Não foi por mal. Eu juro que não foi por mal.

Eu não queria machucar você: prometo que isso nunca vai

Acontecer mais uma vez.

E era sempre, sempre o mesmo novamente --

A mesma traição.

Às vezes é difícil esquecer:

-- Sinto muito, ela não mora mais aqui.

Mas então porque eu finjo que acredito no que invento?

Nada disso aconteceu assim -- não foi desse jeito.

Ninguém sofreu: é só você que provoca essa saudade vazia

Tentando pintar essas flores com o nome

De "amor-perfeito" e "não-te-esqueças-de-mim".

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