domingo, 10 de julho de 2011

NOTÍCIAS QUE NÃO APARECEM EM QUALQUER LUGAR - 9

Envio-lhes abaixo duas lembranças importantes e relevantes.
Leiam com atenção e peito aberto.

Abraço
Gef


E a guilhotina caiu de novo.

Os invisíveis
Em 1869, o canal de Suez tornou possível a navegação entre dois mares.Sabemos que Ferdinand de Lesseps foi autor do projeto, que o paxá Said e seus herdeiros venderam o canal aos franceses e aos ingleses em troca de pouco ou nada, que Giuseppe Verdi compôs a ópera Aída para que fosse cantada na inauguração e que noventa anos depois, após uma longa e dolorosa disputa, o presidente Gamal Abdel Nasser conseguiu que o canal fosse egípcio.Quem lembra dos cento e vinte mil presidiários e camponeses, condenados a trabalhos forçados, que construindo o canal caíram assassinados pela fome, a fadiga e a cólera?
Em 1914, o canal do Panamá abriu um talho entre dois oceanos.Sabemos que Ferdinand de Lesseps foi autor do projeto, que a empresa construtora faliu, em um dos mais estrondosos escândalos da história da França, que o presidente dos Estados Unidos, Teddy Roosevelt, apoderou-se do canal e do Panamá e de tudo o que encontrou pelo caminho, e que sessenta anos depois, após uma longa e dolorosa disputa, o presidente Omar Torrijos conseguiu que o canal fosse panamenho.Quem lembra dos operários antilhanos, indianos e chineses que caíram construindo o Canal? Por cada quilômetro morreram setecentos, assassinados pela fome, a fadiga, a febre amarela e a malária.



Americanos

Conta a história oficial que Vasco Núñez de Balboa foi o primeiro homem que viu, desde um cume do Panamá, os dois oceanos. Os que ali viviam, eram cegos?Quem colocou seus primeiros nomes no milho e na batata e no tomate e no chocolate e nas montanhas e nos rios da América? Hernán Cortés, Francisco Pizarro? Os que ali viviam, eram mudos?
Os peregrinos do Mayflower escutaram: Deus dizia que a América era a Terra Prometida. Os que ali viviam, eram surdos? Depois, os netos daqueles peregrinos do norte apoderaram-se do nome e de todo o resto. Agora, americanos são eles. Os que vivemos nas outras Américas, o que somos?

(textos de Eduardo Galeano)

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